“Ei, você pode me ‘escutar’, por favor?”

Narrado por Juquinha, o Yorkshire corajoso e especialista em humanos rústicos e esquisitos

Hoje o papo é sério (mas gostoso de ouvir): como nós, cães, nos comunicamos com vocês, humanos. Sim, a gente se comunica, e muito, com vocês. Mas em vez de palavras, usamos o corpo, o rabo, a orelha, latidos, olhares e até mesmo o silêncio. 

Se você prestar atenção, vai perceber que estamos sempre tentando “dizer” alguma coisa.

Então, vem aprender comigo. Vou te mostrar como você pode se tornar fluente em “cachorrês”.

1. Latidos – “Nossa forma de falar em voz alta”

Latidos não são apenas barulho! Cada som tem um significado diferente. Aqui vai um guia básico (tipo dicionário mesmo!):

Tipo de latidoSignificadoSituação comum
Curtos e rápidos“Tem coisa acontecendo!”Quando alguém se aproxima do portão
Longos e espaçados“Tô carente… brinca comigo?”Quando você tá no celular há horas
Agudos e contínuos“Socorro! Tô com medo ou sozinho!”Durante tempestades ou se me deixa sozinho
Graves e intensos“Ei, perigo à vista!”Ao ver outro cão ameaçador
Uivo (sim, uivo!)“Tô triste ou entediado”Quando sente solidão prolongada

Dica do Juquinha: Se você perceber que eu tô latindo mais do que o normal, tente identificar o que está me incomodando. Pode ser por tédio ou ansiedade. 

2. Linguagem corporal – “Nosso corpo também fala”

A gente fala com o corpo o tempo todo. Aqui estão alguns sinais que você precisa observar:

GestoO que significaTradução emocional
Rabo abanando lentamenteAvaliando a situação“Hmm… tô curioso, mas cauteloso”
Rabo alto e rígidoAlerta, dominância“Sou o dono do pedaço”
Rabo entre as pernasMedo ou insegurança“Tô assustado, me protege”
Orelhas pra frenteAtenção total“Tô ligado no que tá rolando”
Orelhas pra trásSubmissão ou medo“Por favor, não briga comigo”
Deitar de barriga pra cimaConfiança ou apaziguamento“Confio em você” ou “não quero brigar”
Inclinar a cabeçaInteresse“Não entendi, mas quero entender!”

Observação esperta: Presta atenção no conjunto todo – corpo + rabo + olhar + som. O mesmo gesto pode significar coisas diferentes dependendo do contexto.

3. O poder do nosso olhar – “Como falamos com os olhos”

Nós não só observamos tudo ao nosso redor, como usamos os olhos pra nos comunicarmos com você – mesmo sem emitir um som. Cada tipo de olhar carrega uma mensagem:

Olhar fixo e intenso

Pode parecer hipnotizante, mas esse tipo de olhar nem sempre é “fofinho”. Pode significar duas coisas principais:

  • Desafio: Se vier acompanhado de corpo rígido, cauda erguida ou rosnado baixo, é um alerta – melhor dar espaço.
  • Pedido ou expectativa: Se estivermos relaxados e olhando fixamente enquanto você segura um brinquedo ou petisco… estamos claramente dizendo: “Tô esperando, hein?”

Olhar suave, com piscadas lentas

Essa é a nossa forma de dizer que estamos tranquilos, confortáveis e confiamos em você. É como se disséssemos: “Gosto da sua companhia”. Alguns cães até piscam devagar junto com o tutor, reforçando o vínculo.

Desviar ou evitar o olhar

Nem sempre estamos sendo indiferentes – às vezes é uma tentativa de evitar confronto ou mostrar respeito.

Exemplo: ao encontrar outro cachorro mais dominante, muitos desviam o olhar como forma de dizer: “Não quero briga”. Com humanos, pode indicar desconforto, medo ou submissão. Repare também na postura corporal nesse momento.

Olhar alternando entre você e um objeto

É aquele clássico olhar que vai de você para a bolinha no chão, depois volta pra você e de novo pra bolinha. Adivinha? Estamos tentando dizer algo como:
“Você tá vendo o que eu tô vendo? Vai pegar ou quer que eu pegue?”
Também usamos esse olhar quando queremos mostrar algo, como a porta pra passear ou o pote de comida vazio.

Curiosidade científica: pesquisadores descobriram que cães desenvolveram músculos faciais especiais ao longo da evolução, principalmente ao redor dos olhos, que permitem expressões parecidas com as dos bebês humanos – tipo aquele olhar de “pidão”, com sobrancelhas erguidas. Isso ativa em você instintos de cuidado e empatia. Em resumo: a gente aprendeu a usar a fofura como ferramenta de sobrevivência! 

4. Toques e movimentos – “Cada encostadinha tem um porquê!”

Você acha que quando eu toco em você é só fofura aleatória? Que nada! Tudo tem um motivo. Nós, cães, usamos o corpo o tempo todo para nos expressarmos – e se você aprender a “ler”, vai entender muito do que a gente tá tentando dizer.

Dar a pata

Às vezes é um truque que você ensinou (e eu adoro ganhar petisco por isso, aliás!). Mas muitas vezes é um pedido claro de atenção ou afeto. Tipo: “Dá um carinho aqui, vai!”

Encostar o focinho

Clássico toque sutil de quem quer iniciar contato. Pode significar:

  • “Ei, tô aqui, me nota!”
  • “Quero sair” (quando encostamos perto da porta)
  • “Tá na hora do lanche, viu?”

Rolar de barriga pra cima

Nem sempre é só pra ganhar carinho (apesar de funcionar muito bem!). Esse gesto mostra que estamos confiantes e vulneráveis, mas também pode ser uma forma de apaziguamento, tipo: “Relaxa, não quero brigar.”

Pular em você

Pode ser empolgação, saudade ou pura ansiedade. Mas atenção: se acontece o tempo todo, especialmente com visitas, talvez a gente precise de ajuda pra aprender a controlar essa emoção. E sim, isso se treina com paciência e constância, combinado?

Sinais de alerta!
Se você notar que eu tô:

  • Me coçando demais,
  • Lambendo muito as patas,
  • Andando em círculos sem parar…

…não ache que é charme. Pode ser estresse, ansiedade ou até um problema de saúde. Nesse caso, é hora de uma visitinha ao veterinário, ok?

5. Comportamentos estranhos – “Mas com propósito”

A gente não faz “arte” sem motivo. O comportamento é a nossa forma de se expressar, já que não usamos palavras. Então, presta atenção quando:

Destruímos objetos

Não é birra, juro! Pode ser:

  • Tédio (falta de estímulo mental ou físico)
  • Ansiedade por separação (sofrer quando você sai)
  • Troca de dentes (no caso dos filhotes)

Dica: que tal brinquedos interativos, passeios diários e deixar um paninho com seu cheiro? Tudo isso ajuda muito!

Fazemos xixi no lugar errado

Olha, eu sei onde deveria fazer… mas às vezes:

  • marcando território.
  • estressado (mudança de casa, chegada de outro pet, visita).
  • Minha rotina tá confusa ou não tô passeando o suficiente.

Se for muito frequente, pode ser também problema urinário. Melhor checar com o vet.

Rangemos dentes ou bocejamos fora de hora

Não é sono, é tentativa de aliviar tensão. Cães usam esses sinais pra se acalmar – é como um suspiro em humanos.

Exemplo: em ambiente barulhento ou numa visita ao pet shop.

Ficamos muito quietos ou isolados

Esse é o sinal mais importante de todos. Pode ser:

  • Dor física
  • Tristeza profunda
  • Depressão canina

Sim, a gente tem depressão e ansiedade. A diferença é que mostramos isso com o corpo, não com palavras. Fica de olho.

6. Silêncio também é linguagem

Você acha que quando ficamos em silêncio não é nada? Ah, humano… às vezes, o silêncio grita.

Silêncio + olhar atento

Estamos focados. Pode ser um som estranho, um animal lá fora ou só o pote de comida enchendo.

Silêncio + afastamento

Pode significar:

  • Medo (cheiro de algo novo, visita desconhecida, trovão)
  • Incômodo com uma interação (abraços forçados, por exemplo)

Silêncio + apatia

Se eu não brinco, não como, fico no canto… algo está errado. Pode ser físico ou emocional.

Se esses sinais vierem juntos de perda de apetite, vômitos ou alteração no sono, nos levem ao veterinário. A gente confia em você pra isso.

7. E nós também aprendemos o seu idioma

Você fala “passear” e eu já tô na porta, né? Pois é. A gente aprende com repetição, entonação e emoção.

  • “Banho” – a gente finge que não ouviu.
  • “Comida” – a palavra mais bonita da linguagem humana.
  • Som do micro-ondas? Esperança.
  • Barulho da chave? Emoção pura.

Como facilitar a comunicação:

  • Use comandos simples e consistentes (“senta”, “vem”, “fica”)
  • Mantenha o tom de voz claro e gentil
  • Sempre que possível, recompense o acerto com carinho, petisco ou elogio

Evite gritar, punir ou brigar. Isso só gera medo e confusão. A gente aprende MUITO mais com amor, paciência e um pouquinho de frango desfiado.

Comunicação é via de mão dupla

A gente tá o tempo todo lendo vocês – pelo tom de voz, gestos, rotina… Mas vocês também podem aprender a nos entender melhor. Quer ver como se conectar mais com seu cão? Vou explicar por experiência própria!

Comece por aqui:

  1. Observe nossos sinais com calma e atenção
  2. Respeite nossos limites, medos e tempo
  3. Crie rotinas seguras e previsíveis
  4. Reforce os comportamentos legais com festa (e petisco!)
  5. Ame com presença real – não só com ração

A gente não precisa falar a sua língua pra te amar. Mas quando você aprende a “ouvir” a forma de se comunicar, tudo muda. Nossa amizade fica mais leve, mais divertida…

Agora, se me dá licença… ouvi o barulho do saco de biscoito.
Isso, humano… você entendeu direitinho. 

Com carinho (e um latido educado),

Juquinha – Seu cão, seu tradutor, seu melhor amigo.

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